segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Rui Rangel: "Benfica aos benfiquistas"

Fui à apresentação da candidatura do Juiz Rui Rangel e, confesso, gostei do que ouvi. Como qualquer homem, com as suas convicções, que vai a uma palestra onde as palavras do orador estão em constante pingue-pongue com os sinais processados pelo seu cérebro; confesso que gostei do que ouvi.



A palavra de ordem da apresentação foi da devolução do “Benfica aos benfiquistas”. E meus amigos, a minha opinião é que a devolução do Sport Lisboa e Benfica, a quem realmente o ama, é um projecto para ontem. “Profissionais”? “Benfiquista sou eu e mais 10 ou 20”? É para ontem acabar com esta vergonha.

A verdade é que o Benfica, neste momento, segundo palavras de Pragal Colaço (comentador da Benfica TV e apoiante de LFV), é uma grande empresa. De um clube que faz negócios, o Benfica passou a ser, em si mesmo, um negócio. Sem se aperceber, Pragal Colaço ao tentar exaltar os feitos de Vieira, borrou a pintura.
Rangel tocou aqui na ferida ao exclamar que “o Benfica faz negócios, não é um negócio.”

O sinal que foi dado na AG (curiosamente, é exactamente nestes termos que Ribeiro e Castro se refere à AG: “um sinal” de descontentamento) foi lido com astúcia por Rui Rangel e seus pares. Há 3 anos formaram o Benfica Vencer Vencer, onde congregaram uma série de vozes discordantes à vigência de LFV. Desde então, uma das vozes mais proeminentes desse movimento - José Eduardo Moniz - juntou-se a LFV, valendo-lhe um cargo como Vice-Presidente do clube e, quem sabe, uma preparação para uma sucessão dinástica, à semelhança do que vemos do outro lado da estrada.

Da minha parte, sucessões dinásticas e cooptações? Não, obrigado.

Na altura, a manobra de antecipação das eleições por LFV encurtou o espaço ao movimento e não houve candidato. Depois, uma massa associativa ainda crente em LFV dar-lhe-ia uma esmagadora maioria nas eleições. Desse movimento, sobrou um benfiquista que agora dá a cara contra LFV: Rui Rangel.

Esclareço desde já que fui hoje ao Sheraton com mais dúvidas que certezas. A ideia de ver, finalmente, LFV desafiado por toda a borrada que tem feito nos últimos anos no Benfica (salvaguardando todas as coisas boas que, sem dúvida, também fez) era apelativa. Mas será que o candidato adversário iria surgir com o discurso correcto? Com as palavras que eu queria eu ouvir, sem demagogia e populismo? Assim foi.
Prometida está uma abordagem diferente ao Benfica.

Rangel surgiu no Sheraton maioritariamente bem acompanhado, ao lado de grandes benfiquistas que gostei de ver, como Ribeiro e Castro e Fernando Tavares. Digo maioritariamente, porque também lá estava José Veiga, confome suspeitava. Mas a sessão era aberta a todos e o seu nome não foi lido aquando do anúncio da lista para os órgãos sociais do clube. De resto, não simpatizo com a sua figura e preferia vê-lo longe de uma candidatura que me parece ser composta por benfiquistas. Daqueles que nunca foram sócios doutros clubes rivais.

Agora deixo aqui alguns excertos (de cabeça, por isso não esperem rigor milimétrico) do discurso e das ideias de Rangel ( o programa foi distribuído na sala e está disponível, para quem quiser ler, na sua página do Facebook).

Sobre LFV, Rangel mostrou garras afiadas e deu algumas alfinetadas, nomeadamente à estranha presença de Moniz na sua lista.
"Uma Direcção que anda há 10 anos a dizer 'agora é que vai ser, agora é que vai acontecer'."
"Mandato de mais 4 anos, para quê? Acabar um projecto que não existe?"
"Uma liderança mais fraca, porque agora é a duas cabeças."
"Rei fraco faz fraca forte gente."

Sobre as acusações de LFV, de ser um "aventureiro":
"Aventureiros são aqueles que apostam sempre no cavalo errado para a Liga e a Federação, retirando o tapete à candidatura de um benfiquista e depois convidando-o para a sua comissão de honra.”

Sobre os sócios:
“Nos últimos 10 anos, os sócios deram um capital de confiança único e paz. Deram condições para se criar uma equipa ganhadora. Não foram os sócios que falharam.” 

Sobre a sua ideia para o clube:
"Uma equipa ganhadora, de vitórias, e não uma empresa de compra e venda de jogadores."
"Não haverá anúncios de novas contratações na candidatura, nem sequer há espaço para a discussão desse assunto."

Jesus é o treinador do Benfica e conta com o apoio de Rangel ("as eleições são para a presidência e não para treinador"), contando que faça um trabalho à altura dos pergaminhos do clube.

Rangel confirmou que existiu uma reunião com Vieira (a tal que, alegadamente, serviria para demover o Juiz a se candidatar), mas por respeito ao Presidente, não revelou o seu conteúdo.

Também falou na importância da negociação dos direitos televisivos e na importância de saber se, afinal, neste momento há ou não há acordo com a Olivedesportos. Rangel quer conhecer os dossiers e vai pedi-los à Direcção. Espero que a tão propalada transparência de LFV venha aqui ao de cima.

De lamentar, a ausência dos órgãos oficiais de imprensa do clube, nomeadamente do jornal “O Benfica” e da Benfica TV. Aquando do período para perguntas da imprensa, estes foram os primeiros a serem chamados (obviamente que a equipa de Rangel já sabia que ninguém se encontrava na sala) e
foi uma chapada de luva branca a uma acção, a meu ver, lamentável da imprensa do nosso clube.
Eu sei, a explicação é “não fazer qualquer cobertura, de modo a não tomar qualquer partido”. Nada mais falso. Ao não participarem de um evento tão importante na vida de um clube como as eleições para os seus órgãos sociais, estão apenas a anular o princípio do contraditório.
Sim, porque a julgar pela lastimável capa do jornal “O Benfica” de há umas semanas (que dizia "Atenção detractores") a posição da actual Direcção está bem resguardada.


Acima de tudo, Rangel pediu elevação no debate para as eleições do clube e é isso que eu espero também.
A minha opinião é que se Rui Rangel conseguir levar Luís Filipe Vieira a um (prevejo histórico) debate televisivo, a intenção de voto dos benfiquistas pode, efectivamente, mudar. LFV sabe disso e julgo que vai evitar até onde puder, o confronto directo com Rangel.
(Quem sabe, até, enviar Moniz no seu lugar?)

Entretanto, Vieira lá vai continuando a sua campanha de demagogia, invocando mais uma vez o fantasma de Vale e Azevedo. Mais uma vez se esquece que o Sport Lisboa e Benfica é um clube com mais de 100 anos e não com 10.
O mesmo discurso, ano após ano, já cansa. Vale-lhe (pun intended) o facto de saber que os senhores dos 50 votos ficaram tão traumatizados com Vale e Azevedo, que tudo o que lhes pareça menos mau e já experimentado, seja melhor que o regresso do fantasma.
Vamos elevar o discurso, por favor, Sr. Presidente? Obrigado.

Que comece o debate, elevado, sobre o Benfica. Que haja ideias de parte a parte e que no fim, ganhe o Sport Lisboa e Benfica.


(EDIT: afinal parece que a Benfica TV esteve na apresentação das listas de LFV. Nem preciso dizer mais nada...)

1 comentário:

  1. Muito bom!! Tempo de mudança! Farto de promessas gordas e jantares magros!! Força Rui Rangel!

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