quarta-feira, 27 de setembro de 2017

O pecado da estrutura - as especificidades do futebol na economia



          Domingos Soares de Oliveira durante a última semana, deu duas entrevistas, uma a um órgão de comunicação social escrito e outra na RTP 3. No programa de nome: "Tudo é economia."

                                  


            O plano da redução do passivo e da responsabilidade nas contas é muito interessante, todavia, olvida que é um plano condenado ao insucesso caso o Benfica não vença.
            Não é por acaso, que somos tetracampeões e temos quatro anos de resultados líquidos positivos.
             Mas se não ganharmos, as decisões do ponto de vista económico e financeiro podem ser excelentes na teoria, mas as receitas vão diminuir a pique, o número de sócios pagantes vai diminuir, assim como as receitas com bilhéticas e merchandising. Sem contar com a desvalorização dos jogadores, que são vendidos de forma demasiado rápida pela nossa estrutura. Esse plano a médio/longo prazo assenta no sucesso desportivo.
             Basta questionarmo-nos, depois destes 5 - 0, contra uma equipa de terceira linha do futebol europeu, quanto desvalorizou o Jimenez, o Grimaldo ou o Pizzi?
              O grande pecado desta Direcção é a extrema velocidade e impaciência com que vendeu os jogadores. Por exemplo, transferiu o Renato, ainda, júnior, antes deste sagrar-se campeão europeu e o melhor jogador jovem da competição. Quando este ainda nem sequer tinha a maturidade necessária para emigrar. Com resultados negativos para o próprio, E esta época optou por fazer uma autêntica sangria na defesa titular da época passada, quando pela idade dos jogadores poderia tê-lo feito de forma faseada.
             O segundo erro, foi a sobranceria com se pensou que tinham a fórmula mágica. Vendiam os melhores jogadores e mais jovens, permanecia a estrutura experiente do plantel e conseguia substituir os jogadores vendidos por outros com a mesma qualidade ou melhores.
             Ora, nesta época, o acumular destes dois erros durante os últimos quatro anos, coloca-nos perante uma época, possivelmente, miserável e aposto que no próximo ano não vão existir resultados líquidos positivos para acenar como bandeira de campanha.
             Dos elementos estruturais do plantel: Luisão, Júlio César, Jonas, Jardel, Eliseu estão todos com uma idade considerável e com limitações físicas evidentes que ficam a nú, nos jogos mais exigentes.
             Na baliza, desde o início da época, percebeu-se que a estrutura pretendia substituir Ederson, por um jovem guarda-redes, como se pudessem encontrar Oblaks e Edersons todos os dias. Falou-se de André Moreira (suplente do Braga), Miguel Silva (suplente do Guimarães) e do Bruno Varela. Felizmente, a oportunidade foi dada a este último. Digo, felizmente, porque não é inferior a nenhum dos outros, é benfiquista e da formação. Mas, claro que, o miúdo ia passar por dificuldades. Veja-se o caso do Rui Patrício, quantos erros comprometedores teve durante os primeiros anos de titular do Sporting? Nem todos podem ser Oblaks ou Edersons, isto não é matemática, é futebol! Resultado temos como titular um guarda-redes com trinta e oito anos, que não tem capacidade para fazer uma época de futebol, um jovem guarda-redes com qualidade e um projecto de guarda-redes.

             Na defesa cedemos os passes do Nélson Semedo e do Lindelof. Mais um vez, pensou-se que era só detectar um novo talento e ia pegar de estaca (possivelmente, para vender por uns bons milhões passado uma época) veio Pedro Pereira. Mas, o miúdo estava longe de estar preparado. Resultado temos André Almeida, que é um jogador de plantel valoroso, mas que está a anos luz do Nélson Semedo. Para o lugar de Lindelof, a estrutura tem duas escolhas na linha da sucessão, o Rubén Dias e o Kalaica. Dois jogadores incríveis que podem ser futuros titulares absolutos do Benfica. Mas de momento, é impensável apostar nos dois. E mesmo em um é arriscadíssimo, quando as restantes opções estão muito longe dos seus melhores dias. Com a sangria na defesa, as deficiências físicas do Luisão com 36 anos, vieram ao de cima e são indisfarçáveis. Resultado temos um lateral esquerdo de grande qualidade, Grimaldo (que, alías, só não recebeu guia de marcha porque se lesionou, a entrada de Hermes é a prova cabal desta afirmação) um lateral direito valoroso, mas com limitações. Dois centrais que estão sem andamento para o futebol ao mais alto nível, um central com a idade ideal, mas que nunca foi aposta consistente e duas promessas para a posição.


           No meio campo temos para a posição "seis": Fejsa, Samaris e Felipe Augusto. Fejsa é um jogador incrível, que tem como único problema a elevadíssima propensão para as lesões. Samaris também é um jogador de qualidade, mas cuja reputação em Portugal está completamente manchada e Felipe Augusto, com o devido respeito, é uma aberração. LFV referiu no inicio do ano, numa entrevista, que a aposta do Benfica seria a formação (cumpriu), as jovens promessas (cumpriu) e depois negócios de ocasião de jogadores de qualidade internacional (como por exemplo, o Seferovic). Logo, não consigo compreender o porquê da aquisição deste jogador que não tem qualidade, nem perfil para o nosso Clube.
          Na posição "8", mais uma vez, refiro que, a Direcção vendeu cedo demais Renato Sanches. Tinhamos jogador para a posição para pelo menos mais dois anos. O próprio atleta, decerto, agradeceria. Este é o desafio desta estrutura, para o futuro. Os jogadores que despontam não podem ser vendidos à primeira oportunidade e terão de fazer no mínimo duas/três épocas. Até que, as novas aquisições jovens estejam preparadas para assumir um lugar no onze. Para a posição temos Pizzi que está em péssimas condições físicas, desde o jogo de Vila do Conde. E, depois, no ínicio da época tínhamos mais quatro projectos de jogadores para a posição: Krovinovic, André Horta, João Carvalho e Chrien. Um deles foi cedido e os outros não têm sido, pura e simplesmente, opção.

         Outro dos grandes problemas do Sport Lisboa e Benfica são os extremos. Nos últimos sete/oito anos sempre tivemos jogadores de classe mundial para estas posições. Algo que, neste momento, não ocorre. Uma vez mais, o problema é que nem sempre se pode acertar na mouche. E, quando na época passada saiu Gaitán, chegaram Rafa, Carrillo, Zivkovic e Cervi e nenhum deles, atingiu, até ao momento, patamar de excelência. Tanto é que, mesmo com os problemas físicos visíveis, Sálvio continua a ser o nosso melhor e mais consistente extremo. O que é manifestamente insuficiente.
          De facto, só no ataque é o Sport Lisboa e Benfica mantém a qualidade que nos habituou nas últimas épocas, mesmo com a transferência de Mitroglou. Temos Jonas, Seferovic e Jimenez. E, uma vez mais, é incompreensível, que perante as deficiências do plantes nos restantes sectores, tenham-se envidado esforços para adquirir Gabriel Barbosa, que é inferior a qualquer das outras opções e ainda retira espaço ao Diogo Gonçalves.
         Futebol não é economia. Ganham as melhores equipas e os melhores jogadores. Foi assim que vencemos nas outras épocas e foi assim que a SAD conseguiu apresentar os resultados positivos que tem procurado publicitar nas últimas semanas. O problema principal é que o plantel é formado por muitos jogadores que estão em declínio e  jogadores jovens de grande qualidade, ainda sem a maturidade para assumir um lugar no onze. Para mais, sem estarem protegidos por jogadores mais experientes no máximo das suas capacidades.
          Uma coisa é certa, sem vitórias não há estratégias de longo prazo que resistam!


                                 
          
          

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